abandono

Isadora de Castro
1 min readFeb 1, 2024

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I.

nas rinhas de abandono que acontecem ao meu redor
prezo, rogo e faço jus à minha solidão
brindes, vinhos, cervejas e champanhes
como se eu não mais pudesse
levar a vida devassa que me cabe

II.

ainda assim, faço jus ao livre arbítrio
enquanto me estatelo ao chão
doce e incoerente nas mais variadas situações
sou anônima em minhas vontades
e padeço junto ao sonho infame
de um dia me tornar eterna

III.

ignoro a misericórdia da vida
clamo ao seu deus todo poderoso
que ele me enxergue
me toque, me sacuda
enfrente todas essas rinhas de abandono
que acontecem em mim

IV.

me despeço e me despido do caos solitário que me abrigo
com vontade suficiente
para buscar desatino em seu olhar
significado em seu vocabulário
desejo dentro do inenarrável

V.

sei que o sutil já escancarou muita coisa dentro de mim
mas ainda assim eu
me reformo inteira
enclausurada dentro destas quatro paredes vazias
de uma nova vida que me espera
de novos sonhos que me alcançam
de uma nova fase que me toma fôlego

VI.

ainda sorrio na cara do perigo
remoo os desencontros que carrego
converso com os olhos e falo demais

VII.

é assim que toco a pele do mundo
é assim que me deixo levar:
arranhada ao que carrego
é assim que o mundo me toca
num só esbarrão
e leva de mim
toda a vontade que havia
de promover vida

pois sei que aqui
o que paira mesmo é inexatidão

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