oceano

Isadora de Castro
2 min readApr 9, 2023

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eu estava beira mar, pés na areia, cabelos ao vento. uma brisa forte, que indicava temporal. eu estava de braços abertos, sentindo cada parte de mim em excesso. por pura teimosia, água também escorria dos meus olhos. lágrima é bobagem. toda vida eu jorrei água. por inteira.

olhos, suor, arrepio frio.

gozo da alma em essência.

não me apodero de coisas que são sólidas, eu gosto da fluidez das águas, daquilo que transmuta por natureza. que não têm medo do caber.

caber é difícil.

um dia me ensinaram que o amor era linear.

e eu achei que me encaixaria feito lego.

você conhece alguém hoje, amanhã amadurece os sentimentos, aflora todos eles, expele como se fosse tóxico. descobre que não é tão tóxico assim. declara! (essa é a parte mais importante) nessa declaração só cabe gritos, exageros, tudo percorre a pele com a intensidade de um vulcão.

lento, frio, mas que pode ser explodido em segundos.

depois vêm a inevitável temperança. se acostumar com as coisas é parte fundamental do processo. tudo se torna escasso. e não de um jeito ruim.

a água turva se torna límpida, o abismo mais parece maresia, leve, divertida, farfalhar de olhos e sorrisos em combustão.

descubro que a água que jorra em mim é tão improvável quanto o amor.

e aquilo que ufa! finalmente percorreu todas as linhas tênues e há de tornar-se só usufruto…

na verdade é um navio cruzando um mar bravo e descontente.

amar é café passado pela manhã, mas também o choro intransponível da madrugada.

amar é arrepio na nuca, mas também indiferença.

grito socorro toda vez que, por ora, cabeça fala mais alto que coração. tento gritar gritar gritar para ensurdecer meus ouvidos falhos, mas tudo que encontro é o silêncio.

para alguém barulhenta como eu, se deparar com o amor e o silêncio, quase que como sinônimos, é perturbador.

o medo do amor sempre me pareceu quase inocente. como ter medo de algo inevitável?

todas as vezes que ousei pisar no raso, me encharquei em essência. não há meio termo quando o assunto é o sentir,

e talvez por isso, me sinto eu na água.

fluida, mas tempestiva.

ciente de toda a sua grandiosidade.

hoje, oro todos os dias para que deus em toda a sua pequenez, me ensine a amar.

e mesmo amando, todos os dias, tenho a ciência de que pouco sei. porque amor não se sabe nunca, mas se sente sempre.

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