tudo que começa acaba

Isadora de Castro
2 min readNov 22, 2023

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- silêncio.

estou em meio à natureza, da forma que eu estava quando, enfim, nossos mundos se colidiram.

queria ser capaz de te dizer que te amei em paz todos esses anos, mas isso seria mentira.

queria te dizer que te amei consciente, mas acho que meu amor por você foi meu último suspiro exasperado.

a última tomada de ar, antes de eu me afogar de uma vez por todas.

a verdade é que eu te amei em completo desespero.
como quem implora pela eternidade.

de um jeito tão seu, que cavuquei fundo dentro de mim e não encontrei

- nada.

eu te amei como alguém capaz de atravessar o deserto, como se eu pudesse vingar o eterno, como quem sente

peito
poros e,
pelos
se eriçando ao menor sinal de reciprocidade

eu bati em portas e janelas, fiz panelaço, peguei em armas, muni-me de sentimento

- eu fiz revolução.

eu saí d’um buraco,
desacreditada de gente,
revestida de sangue,
à passos largos
e entregue:

ao seu amor.

e fui jogada nas mesmas trincheiras, que,
outrora, eu estivera.

como se fraca eu estivesse.

eu busquei em vários endereços, um que eu pudesse chamar de meu, um que me abraçasse como lar, um que fosse mais que uma casa de tijolos amarelos

eu busquei nas tintas rabiscadas do meu corpo, no suor cheio de coragem, e no último gozo cedido

(como se nem fôssemos merecedores d’Ele)

- o amor que você me prometera.

e feito faca afiada,
cortei-me de nós,
entreguei-te todo o resto,
me dispus a ir embora

(e você aceitou)

como se tudo, fosse nada
e exagerada, fosse eu.

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